“Aquela voz na cabeça que a gente ignora quando não deveria” | Microconto | RPG Ironsworn Starforged

Rafael Cruz
6 min readAug 9, 2022

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A noite antes de partir foi longa, mas não por conta dos pouquíssimos detalhes que o Clad contou a respeito da expedição. Conversamos bastante sobre planos futuros e o que a gente conseguia perceber do mundão ao redor, mesmo com as nossas diferenças.

Noitescura é uma vila predominantemente povoada por centauros bastante curiosos e apegados ao lar, com alguns humanos, alguns elfos. Acho que uma goblin também. Não sei, faz tempo que não vejo a Katrina, disse que ia viajar o mundo e ainda não retornou. Saudades dela. Sempre teve uma boa aptidão na magia e usava isso nos treinamentos com o arco. Teve até uma vez em que… deixa pra lá. Como eu ia dizendo, uma vila de centauros que não sai muito dos domínios conhecidos.

Minha vó conta histórias de como o nosso povo era bastante conhecedor do mundo em nossa terra natal, mas que depois do êxodo muito daquilo ou se perdeu ou não pôde mais ser utilizado. Novas terras, novas criaturas, novas culturas. Hoje, dos poucos de nós que restamos mantendo a chamas da curiosidade e conhecimento acesas, menos ainda escolhem se aventurar pelo continente. Ninguém de fato nos impede de sair, mas há algo nesse pedaço de floresta que nos faz ficar. É acalentador, mas sufocante.

Clad diz que costuma sair bastante da própria vila. Como ser humano está na moda, ele tem o privilégio de encontrar vários de si pelas vilas no continente, então acho que a noção dele de ‘lar’ é diferente da minha. Diz também que ele viaja justamente em busca de desafortunados que estejam querendo dar a volta por cima, e repassa os serviços que pega. Me sinto burra comentando isso, porque sempre achei inacreditável esse tipo de história, mas cá estou eu atravessando os limites da vila tentando ajudar um amigo.

Nova expedição: Encontrar as Ruínas (rank 2)

Eu quero correr, mas é melhor ficar atenta. Já brinquei em várias partes dessa floresta, mas nunca se sabe o que mudou em tanto tempo. A mata já foi mais calma, mais tranquila. Minha vó diz “mais justa”, e eu respeito uma velha caçadora como ela.

Undertake An Expedition [wits] — Encontrar as Ruínas

2 +2+1 vs 2 e 7= Weak hit
:: encontrar um perigo

Às vezes a gente tem um sentimento, um instinto, uma vozinha na nossa cabeça dizendo para tomar este ou aquele caminho, confiar nesta ou naquela pessoa. Sou ensinada desde cedo ter a sabedoria suficiente para saber identificar esses momentos, fazer a minha escolha e me comprometer a ela. Essa não foi uma das vezes em que eu consegui fazer uma boa escolha. Em meio a troncos retorcidos de uma vegetação estranhamente rasteira e decadente, eu resolvi continuar seguindo achando que, bom, parecia uma trilha para uma ruína certo?

Oráculos Tema e Descritor: “Cultura” e “Assombrada”

Floresta com grande névoa
imagem de Hans

Errado.

Esse tipo de coisa é pra ser evitada. Meu irmão quem costuma lidar com qualquer manifestação minimamente “oculta”, “mágica” ou apenas “estranha”. Comigo tende a ser um pouco mais fácil e direto. Mais simples. Continuei descendo a trilha porque vi alguns restos de equipamento meio destruídos pelo tempo e algum tipo de corrosão. Parecia tão velho que poderia remeter a algum povo que viveu por ali. Foi só quando eu resolvi tocar no que parecia ser algum tipo de placa de metal antiga que percebi que aquela parte da floresta estava mais escura do que deveria estar a essa hora do dia.

Segui o caminho. Àquela altura, eu já estava em território novo e não fazia muito sentido retornar. Pensando agora em perspectiva, talvez eu até entenda porque o povo costuma não se aventurar muito. Vicia. A gente quer saber mais, quer ver onde as pernas vão levar e que descobertas serão reveladas. Como eu disse antes, eu quero ser a minha melhor versão para quando puder retornar para aquela selva reluzente no continente velho, eu possa ter algo a acrescentar. E não dá pra acrescentar muito treinando com alvos imóveis e fugindo das coisas estranhas que existem. Então eu segui.

Oráculo Assombrado-Perigo: “Lançada em escuridão desorientadora ou rodeada por ilusões”

Não muito longe dali eu encontrei algo que fez a minha cabeça girar: algum tipo de recipiente metálico cilíndrico do tamanho de um punho, mas ele parecia ter sido explodido de dentro para fora, sabe? Como quando a gente lança alguns óleos em carvão. Simplesmente não fazia sentido aquilo estar ali, especialmente porque não parecia antigo como os outros destroços no caminho. Guardei no bolso, torcendo para essa coisa não ser tão estranha quanto parece.

Embora eu tenha crescido aqui, este continente é desafiador para gerações mais antigas. Minha vó conta o quanto certas tecnologias foram perdidas durante o êxodo, e o quão confusas são certas maravilhas presentes nessa terra. Eu tenho certeza absoluta que ela não saberia dizer o que é o recipiente metálico, e isso é o que me assusta: não poder contar com o conhecimento dela. De certa forma, é isso o que ela critica em mim. Eu sou muito boa em destruir coisas e contar com as minhas habilidades físicas, mas costumo deixar para outras pessoas resolverem (Mairu eu estou falando de você) quando percebo que é preciso parar, respirar e pensar um pouco. Esses pensamentos sempre voltam quando eu não quero que voltem, então eu apenas os expulso quando dá.

Mais algum tempo de caminhada e a trilha está cada vez mais fria. Eu realmente tomei a direção errada mais cedo. Deveria voltar? Faz sentido?

Me escoro em uma árvore para comer ao menos um pouco e realmente decidir o que fazer dali para frente. É então que acontece a estranheza, de novo. Bem, o que estou para te contar eu mesma não acredito, tá? Se o meu irmão me fala sobre isso, eu dou de ombros e solto uma gargalhada nervosa.

Vamo lá: eu estou comendo qualquer coisa e avisto a alguma distância uma clareira. Esse tipo de lugar normalmente é usado para fazer pequenos acampamentos para recuperar as energias, você sabe. Vou até lá e encontro alguma informação de que o tal grupo que o Clad falou pode ter passado por aqui. Finalmente. Eu faço uma prece de agradecimento baixinho e começo a investigar para saber por onde seguir. Num segundo eu estou revirando restos de gravetos e até de comida…

… no segundo seguinte eu estou olhando o acampamento povoado por sombras que se movimentam e sobrepõem umas às outras, como se estivessem usando aquele acampamento naquela hora. Ela andam, sentam, deitam, parecem comer algo, lançam seus restos no lugar exato onde eu acabara de tocar. E eu não estou lá, exatamente. Só estou observando, como se não fizesse parte do mesmo mundo que elas. Será que é assim que os fantasmas se sentem? Eu morri?

E sabe o que é pior? As sombras pareciam estar com poucos suprimentos e estavam disputando eles entre si. Um calafrio passa pela minha espinha quando esse pensamento me invade. Aconteceu algo bem ruim nessa expedição.

Oráculo Assombrado-Característica: “Visões fantasmagóricas deste lugar em outro tempo”

Oráculos Ação e Tema: “Disputar” e “Suprimentos”

arte de JB Fuller

Inori Selvadourada é uma centauro guerreira que busca ser a melhor versão de si mesma. É uma personagem de um cenário de fantasia medieval próprio. Possui um irmão bruxo e uma avó caçadora. É alegre e jovial, mas teimosa. Maneja maças, martelos e lanças como ninguém.

Seus assets são: Centauro (customizado), Blademaster, Scavenger

Suas histórias estão jogadas e resultados reais de um jogo solo de Ironsworn Starforged, repaginado para um ambiente medieval fantástico. Nem toda as jogadas estão descritas, mas todo o conteúdo foi gerado dessa forma.

Você pode encontrar mais textos dela aqui.

Gosta do que leu e quer dar uma moral? vá em frente:

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