Café | Microconto | Erótico | RPG City of Mist

Rafael Cruz
5 min readAug 11, 2022

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O cheiro do café recém coado se espalha pela cozinha e, atravessando a sala, chega às minhas narinas no escritório. Café preto, forte. O dia mal começou e eu me esforço para conseguir encontrar algum tempo de calmaria em meio a todo esse inferno.

Em Payne Town, o inferno é apenas uma… ah, que se foda.

O gosto apaziguador do café desce pela minha garganta enquanto os sons das sirenes entram pela janela, vindas lá de baixo, na avenida. Era para ser uma manhã normal, com os clientes normais, buscando as evidências normais para incriminar os maridos infiéis normais, mas não: alguém tinha de ter abusado da bebida e causado um acidente. Mas eu me informo sobre isso mais tarde. Por hora…

Por hora eu me recosto em uma cômoda enquanto bebo o café e vejo a Eliza dormindo na cama à minha frente. Ela parece estar dormindo pesado, acho que finalmente a insônia passou. A pele branca dela contrasta com a roupa de cama bagunçada. Roupas pelo chão.

Me perco em lembranças de tempos que eu finjo que são mais simples, mas estão longe disso. Óperas, monstros, circos e tempestades. Quase sinto falta disso e me pergunto por onde andam certas pessoas. Não demora muito e eu sou interrompido por um beijo no pescoço. Um sorriso. “Bom dia, Gene” eu ouço.

Uma cama, e uma vista para a janela com sacada.
imagem por StockSnap

Sorrio de volta e digo que tem café pronto. Ele ignora e me beija de forma doce, e depois mais forte. “Dormiu bem?” ele me pergunta com um olhar cheio de preguiça. Respondo que sim, em algum momento da noite consegui dormir, bem cansado.

Ele sorri, me abraça. O abraço do Tony é gostoso, daqueles que te engloba todo e você se sente… seguro, sabe? Estar seguro nessa cidade é privilégio temporário. Nem os poderosos conseguem por muito tempo. Sorte minha que, por agora, eu me sinto seguro com o Tony. Espero estar oferecendo segurança a ele também, pelo menos por agora. O abraço se demora o tempo que é possível, e se desfaz. Ele olha para trás e vê a antiga dona do Farol das Docas se mexendo na cama, quase quebrando a barreira do sono.

Vocês se conhecem há muito tempo né?” ele lança a armadilha eu caio nela, concordando com a cabeça, em silêncio. Reconto como a história começou, como acabou, e como teimou em recomeçar. Sou um péssimo contador de histórias, mas o Tony parece gostar. Ele senta na cama e acaricia Eliza de leve. A essa hora ela já está acordada, se aninha nele e cumprimenta a gente.

Eu ronquei?” a pergunta sai com vergonha. A deusa-sereia costuma roncar, se eu bem me lembro, quando consegue dormir profundamente. A gente ri e diz que não, mentindo sem um real esforço de esconder a mentira. Tony me chama para perto e diz que me ama, com um voz manhosa. É safadeza, eu sei que é. Eu me abaixo, digo que o amo, desvio o olhar para Eliza, digo que a amo também. Ela me beija devagar, ciente da armadilha que o Tony armou para nós dois. O beijo não se demora, e com um selinho, ela segura o meu rosto e me direciona para o peito dele. Eu o beijo devagar, vou aos mamilos e quase dou um mordiscada, apenas o suficiente para sentir a reação no corpo. Desço pela barriga e afasto suas pernas.

A essa altura ele já está bem excitado e o meu desejo é que o tempo pare e o mundo não invada a minha casa. “Você quer que eu pare?” eu pergunto, como se uma resposta positiva fosse possível, chupando com força. Eu gosto do corpo do Tony, é macio, quente, talvez até mais quente do que outros corpos com quem já estive. Eu não ia comentar, mas o pau é uma delícia também.

Você não pararia nem se quisesse” ouço a Eliza falando, enquanto ela se ajeita na cama. O toque dela no Tony é tão poderoso que eu sinto a vitalidade sendo recuperada apenas pela temperatura subindo. Já disse uma vez que existem vantagens demais em transar com alguém que divide o corpo com uma deusa da fertilidade. Ela se ajoelha do meu lado, e faz cara de quem quer dividir. “Quem vocês querem que eu seja hoje?” Tony pergunta. Respondo que eu quero que ele seja ele mesmo dessa vez. Eliza concorda, mas diz que não se incomodaria se ele ficasse um pouquinho mais baixo, para encaixar melhor, sabe como é.

De vez em quando o Tony gosta de transar fingindo ser outra pessoa. Não só personalidade, mas de voz, corpo e tudo o mais. Ele é como eu e a Eliza, sabe? O Tony… faz… coisas. Eu não o julgo. Porra, eu seria um otário ainda mais fodido se fizesse isso. Tem seu charme, tem seu apelo. Às vezes ele muda de forma no meio da farra, nem sempre dá certo. Ninguém aqui é perfeito nem tenta ser, por isso dá certo eu acho.

Ele fica lindo quando está sendo chupado. Sorri. Olha pra mim porque ele sabe que eu gosto de olhar. Então eu resolvo ser maldoso e faço aparecer uma venda nele, só porque sim. Quase riu nessa hora, mas a Eliza pegou de jeito e apenas saiu um gemido. Em alguns minutos ele gozou, meio que no susto. Pareceu desapontado. Fez uma cara de quem caiu da mudança, ainda com a venda nos olhos. “Liza, por favor, por favorzinho, vai” ele implorou, com voz miúda. Eliza se limpou, levantou e disse deita.

Uma palavra, um comando.

Ela assoprou vitalidade pelo peito dele, enquanto o pau voltava a crescer, como se nada tivesse acontecido. Sentou nele e olhou para mim. “Vem.

Uma palavra, um pedido.

E se inclinou para frente.

Quando eu estava prestes a me encaixar atrás dela, parei, pensei, criei correntes nos braços dela até o teto. “Você sabe que eu odeio correntes”, ela rosnou. “Dessas você gosta” eu sorri, e ela também.

Obviamente o Ne-Yo, mas clica aqui que você não vai se arrepender.

Eugene Cohen é um personagem de City of Mist. Trabalha como detetive particular, mas realmente ganha a vida como agiota (ou, como ele gosta de dizer, “fazendo acordos que sejam benéficos para ambas as partes”). Recentemente teve a alma tocada e desperta pelo Gênio da Lâmpada. Desde então seus acordos têm ficado cada vez mais interessantes. E com consequências cada vez mais complexas.

Para alguém que pode ter tudo, ele sente que falta algo fundamental. O que será?

Você encontra sua playlist aqui.

Os jogos ocorrem no Nopertwo, nas noites de Domingo.

As sessões da campanha City of Mist — Noites em Payne Town estão aqui.

Os outros contos de City of Mist estão aqui.

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